sexta-feira, 25 de junho de 2021

"As mãos", Manuel Alegre, Obra Poética

 .

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.

Com mãos tudo se faz e se desfaz.

Com mãos se faz o poema – e são de terra.

Com mãos se faz a guerra – e são a paz.


Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedras estas casas, mas

de mãos. E estão no fruto e na palavra

as mãos que são o canto e são as armas.

.

E cravam-se no tempo como farpas

as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.

.

De mãos é cada flor, cada cidade. 

Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.

in «O canto e as Armas», 1967

Este poema de Manuel Alegre simboliza a esperança pela Liberdade e foi cantado por  Adriano Correia de Oliveira.

Análise estilística

  • Antítese: ”se faz, se desfaz. a paz, a guerra” (realça o poder quer para o bem quer para o mal das mãos)
  • Comparação: ”E cravam-se no tempo como farpas.”
  • Anáfora: ”Com mãos…; Com mãos…; Com mãos…; Com mãos….” (anuncia a enumeração de poderes das mãos)
  • Metáfora: ”Ninguém pode vencer estas espadas” (como uma arma, espada, as mãos podem ser usadas para alcançarmos a liberdade)
  • Aliteração: ”vão no vento: verdes”  (escolha do verde, esperança, e de um efeito sonoro, o V, para mostrar como esse poder pode ser espalhado por todo o mundo)

Sem comentários:

Enviar um comentário