Com algumas
semelhanças ao conto tradicional, este fala no primeiro baile de uma rapariga
cujo nome é Lúcia. Esta foi com a sua tia-madrinha para o baile, numa mansão
cor-de-rosa, na primeira noite de Junho, mas apresentou-se com um vestido
lilás, horroroso. Esta usava também uns sapatos rotos, velhos e azuis. Durante
a festa, foi colocada de parte por todos, sentindo-se gozada. Então, durante a
noite, ela olha-se no espelho, sentindo-se "afogada boiando numa água
sinistra", encontra uma rapariga, de certa forma, misteriosa, que a faz
tentar ver que os espelhos são como as pessoas "más", que não diziam
a verdade. Mais tarde, um rapaz dança com ela e, também um tanto misterioso,
lhe diz que, noites como aquelas escondiam uma "angústia" por entre
os brilhos, cores e perfumes... Durante a dança, um dos sapatos velhos cai-lhe
do pé! E ela nada disse, não se acusou. No final da noite, numa sala coberta de
espelhos, esta promete a si mesma que vai mudar a sua vida. Passados vinte
anos, ela volta à tal mansão, rica, bonita e poderosa. Sim, tinha mesmo mudado,
a sua vida. Voltou à tal sala de espelhos, onde, como que por magia, a imagem
refletida não foi o seu novo vestido, mas sim o antigo, lilás. No momento de
pavor, entrou um homem na sala, dizendo ser o "outro caminho". O
caminho que ela escolheu há vinte anos atrás. E, como pagamento, queria o seu
sapato do pé esquerdo que, desta vez, era forrado a diamantes. Ele, como troca,
entregou-lhe o antigo sapato roto. Ela não se conseguiu mover. Este tirou o
sapato. Na manhã seguinte, Lúcia havia sido encontrada morta na mesma sala.
Nunca houve explicação para o facto de se encontrar um sapato roto no seu pé.
De uma
leitura simples, mas profunda, História da Gata Borralheira por Sophia
de Mello Breyner fala-nos de que, nem sempre a riqueza é o melhor caminho e que
as coisas podem nem sempre correr bem. Um conto de fadas "mais
realista", com um final infeliz.